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The First Grader – A luta de Maruge pelo mecanismo primordial da percepção


O ser humano é dotado de uma estrutura de assimilação em relação à vida e as coisas que o cercam, composto basicamente de três pilares: a percepção, a avaliação e a decisão.

Funciona básica e necessariamente na ordem apresentada: por algum meio de reconhecimento, o indivíduo percebe a realidade à sua volta, decodifica o que lhe é apresentado, avalia o que isso representa em seu universo e decide de que forma agir diante daquilo. Grosso modo, é dessa forma que o ser humano aprende e se capacita para aprender: um ciclo de evolução constante, sempre se renovando com um sentido cada vez mais apurado de percepção, que inicia novos ciclos. Isso vale para processos formais ou não formais de “ensino” e “aprendizado”.

Nesse sentido, um dos mecanismos “mais primitivos” dessa percepção está associado à habilidade a capacidade de ler. Ler, simplesmente.

Talvez você, como eu, não tenha uma noção muito clara do que é não saber ler. Mas impressiona-me, comove-me e constrange-me saber que alguém não consegue entender um texto, uma frase, um nome, uma palavra de aviso em uma placa na rua.

the-first-grader-capaÉ provável que tenha sido essa a razão de eu ter sentido um impacto tão grande quando assisti a “The First Grader” (disponível no Netflix apenas no catálogo americano – legendas em Inglês).

O filme, premiado em alguns festivais internacionais, conta a história de Kimani N’gan’ga Maruge, um homem de 84 anos pelo direito à alfabetização. O velho queniano foi ex-combatente Mau Mau, um grupo de luta contra o imperialismo britânico naquele país em um conflito que durou de 1952 a 1960.

Um dia, já velho, soube que o governo do país anunciou o programa “educação para todos” (free education for all). Com a mesma determinação e consciência dos tempos de guerrilha, Maruge simplesmente foi à escola e alinhou-se ao lado de dezenas de crianças para tomar seu lugar em um banco escolar. Justificava-se dizendo que “… se você não pode ler, não é melhor do que uma cabra.”.

O enredo desenrola-se apresentando situações de resistência e preconceito por parte de alguns professores, dirigentes do sistema educacional, pais de alunos. A certa altura, chamou  a atenção da comunidade local e da imprensa. Ao ser questionado por um repórter sobre o combustível de tal determinação, respondeu com uma frase que tornou-se célebre e o mote de sua luta: “the power is the pen”.

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O verdadeiro Maruge. Na escola.

O filme tem momentos pesados, especialmente quando mostra a memória dos tempos de tortura que deixaram marcas profundas no corpo e na personalidade do nosso herói.

Já posso adiantar que o final é feliz – um alento para aqueles que acreditam no direito básico do ser humano à educação e na força da leitura, das palavras, do aprendizado e da caneta.

Se você puder, recomendo que assista e perceba a mensagem poderosa daquela história.

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